segunda-feira, 14 de setembro de 2015

INFÂNCIA VIOLENTADA.



            Há alguns anos, quando participei do COMUCRA - Conselho Municipal da Criança e do Adolescente, de Descalvado (SP), por deveres do exercício, estudei teores do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA. Lei que se predispõe a defender crianças e jovens de infortúnios da vida em sociedade. Lembro-me que nas oportunidades de trabalho em reuniões ou em ações, prevalecia as determinações da cartilha-mor do encaminhamento dos menores; nada poderia atingi-los física e moralmente. Diante disso, nós, do Conselho, envidávamos todos os esforços possíveis para o cumprimento da lei.

            Mas, permita-me amigo leitor, amiga leitora, retornar algum tempo mais. Década de setenta, em Santos (SP), eu pertencia ao grupo de comissários de menores do Fórum daquela cidade. Cabia-me, então, realizar sindicâncias junto a familiares de menores que, de uma forma ou de outra, sofriam de alterações comportamentais ou de violência física e moral. Casos de agressões, de estupros, sevícias contra a infância e adolescência. Por outro lado, casos de roubos, violência, drogas etc, práticas comuns de  menores infratores. Para termos ideia, naquela época, havia um menino de apenas doze anos com assassinatos em seu currículo. Triste, mas verdade. Pois bem, executávamos nosso trabalho in loco, visitando familiares, entrevistando vizinhos, professores, enfim, todo aquele que convivesse com os menores envolvidos. Levantávamos a ficha completa de cada caso, elaborávamos relatório detalhado com fotos, relatos e tudo o que fosse útil à análise dos problemas. Esse relatório, finalizado, era encaminhado ao doutor Juiz de Menores que, à vista do processo no qual se incluía nossas ponderações, decidia pelo procedimento mais adequado. Naquele tempo, felizmente, não havia o ECA, o que permitia ao magistrado o enquadramento perfeito das suas decisões.

            Hoje, por conta da impunidade que impera nas decisões judiciais do nosso País, o ECA presta-se mais à demagogia sócio-política do que propriamente à defesa do menor vítima. E o que mais me assusta é a frequência atual de crimes contra a criança. Se não, vejamos:

            1) O menino desapareceu. Durante três dias, a família o procurava, sem resultados positivos. Contudo, o mau cheiro que invadia a sala da casa onde vivia o garoto chamou a atenção. Kelvin, de apenas seis anos, morto há três dias, tinha seu corpo enrolado num lençol, escondido dentro do sofá. Alegando que já tentara matar o filho outras vezes, a própria mãe confessou o crime.

            2) Duas crianças. João Vitor, de treze anos, e Igor, de doze. Ambos assassinados pelo pai e pela madrasta. Ambos assassinos, após matarem os meninos, atearam fogo nos corpos, esquartejaram e jogaram os pedaços no lixo. Um gari, que recolhia o lixo na rua na qual moravam os menores, descobriu os corpos mutilados, em Ribeirão Pires, interior de São Paulo.

            3)  Este caso aconteceu recentemente em São Paulo, capital. Ezra, de apenas sete anos, filho de Lia. Vivia com a mãe e com Lino, o padrasto, e com dois irmãos por parte de mãe. Ele nasceu na Africa, país de origem de sua mãe e do padrasto, e há dois anos veio para o Brasil. Segundo pessoas que o conheciam, diziam-no sempre muito triste. A mãe e o padrasto tinham uma loja de doces no centro de São Paulo. Sem maiores explicações, fecharam a loja alegando que ela seria reformada. Na verdade, estavam fugindo para a Africa depois de assassinarem o pequeno Ezra. O corpo do menino foi encontrado num freezer, na sala da casa deles, por um primo de Lino, que desconfiou da estranha viagem da família sem maiores explicações e conseguiu entrar no apartamento. Mas o triste deste caso é que o Conselho Tutelar foi avisado, recolheu o menino por dias e depois o devolveu à família, ou seja, aos torturadores do garoto. O pequeno já havia manifestado seus medos à sua professora, inclusive mostrando as marcas das agressões em suas costas. Com tudo isso, foi entregue à morte pelas autoridades que o deviam proteger.

            Mas, para que serve o tal ECA? Para proteger menores infratores? Para que servem as leis que dispõe a justiça de crimes contra a criança? A justiça brasileira precisa de urgentes e radicais reformas. Adequá-las aos tempos de hoje, senhores deputados, senhores senadores. Assassinos de crianças, covardes, merecem cadeia plena, perpétua, ou pena máxima. Enquanto isso, na divulgação de seus partidos, os políticos vivem afirmando que estão mudando o Brasil; não os coloco em posições de credibilidade. Não vejo nenhuma mudança. O discurso continua o mesmo e o Brasil, o povo brasileiro, continua buscando uma corda para sair do buraco cavado pelos corruptos, pelos demagogos. Até quando?.
 
Prof. Roberto Villani

 

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