O polêmico economista
Roberto Campos, há mais de meio século, formulou uma interessante definição
para populismo: “O populismo é a arte de distribuir riquezas antes de tê-las
produzido.”
Após 2002, o governo
brasileiro distribuiu recursos (sob a forma de aumentos salariais muito acima
da inflação, bolsas para ampliar a rede de proteção social, ampliação do
crédito e construção de casas populares), sem tê-los criado ou, sequer,
expropriado. Afinal, nem ocorreu aumento de produtividade (e consequente
geração de riqueza), nem diminuíram (muito ao contrário) os lucros dos grandes
empresários e banqueiros.
De onde, então, surgiu
o dinheiro? O primeiro passo foi o de se ampliar os gastos públicos,
injetando-se recursos na economia, em geral, e nas contas dos bolsistas, em
particular. O BNDES elegeu algumas empresas “campeãs”, que receberam
empréstimos com juros subsidiados (e sem necessidade de demonstrar que poderiam
honrar a dívida contraída). E a CAIXA irrigou os programas de distribuição de
donativos (donativos sim, pois não havia contrapartida dos “bolsistas”) e os
programas habitacionais.
Como não houve
planejamento nesses desembolsos, o retorno dos recursos sob a forma de
crescimento sustentado da economia não ocorreu. Os empréstimos do BNDES
transformaram-se em vergonhosos episódios de falências fraudulentas e o
dinheiro entregue aos bolsistas acabou incentivando o consumo de produtos
importados, uma vez que as empresas brasileiras (encalacradas com os impostos,
a falta de infraestrutura e os custos da energia) não tinham condições de
atender ao mercado.
Injetar dinheiro na
economia, sem produzir riquezas, produz inflação. E o governo petista decidiu
escondê-la: a cotação do dólar foi mantida artificialmente baixa (mantendo
baixos os preços dos importados no mercado interno, o que destruiu de vez a
competitividade do empresário nacional); alguns produtos manufaturados
receberam isenções fiscais (aumentando o déficit público); o preço dos combustíveis
e da energia elétrica foram represados.
Para evitar aumento nos
preços dos combustíveis, a PETROBRAS foi assaltada pela militância partidária
petista, asfixiando a empresa a partir dos cargos de diretoria e do conselho
administrativo. Claro, aproveitaram-se da situação para fazer caixa para o
partido, para a base aliada e também mandar uns trocados para contas bancárias
no exterior...
As empresas de
eletricidade foram descapitalizadas, por conta da redução das tarifas de
consumo de energia, ficando sem condições de investir na manutenção de linhas e
no aumento de produção. O resultado, desesperador, é a produção insuficiente
que só não se transformou – ainda – em racionamento graças à produção
termoelétrica que gera energia 300% mais cara.
Como sair dessa
situação? A resposta é teoricamente fácil, mas sua implantação é
impressionantemente difícil: o governo precisa arrecadar mais e gastar menos.
Precisa cobrar mais impostos e parar de desperdiçar dinheiro. O problema é que
(com as graves deficiências de infraestrutura) os pequenos e médios empresários
não conseguiriam sobreviver ao aumento da carga tributária. E as classes
médias, totalmente desassistidas pelo governo, não admitem mais impostos.
Do outro lado, o
governo não sabe economizar e não pode abandonar os programas de proteção
social (seja por motivos humanitários; seja por necessidade eleitoral).
Pois é, populismo tem
custo! Quanto? As ruas dirão.
Ney Vilela
Coordenador Regional do Instituto
Teotônio Vilela de Estudos PolíticosMembro da Academia Jahuense de Letras
Membro da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
Membro do Instituto Cultural de Artes Cênicas do Estado de São Paulo
Membro dos Estudos Pós-Graduados em História (Cultura e Representação) da PUC-SP
Professor de Teorias da Comunicação e de História do Brasil Contemporâneo da Fundação Raul Bauab - Jahu
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