quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

POPULISMO TEM CUSTO!


O polêmico economista Roberto Campos, há mais de meio século, formulou uma interessante definição para populismo: “O populismo é a arte de distribuir riquezas antes de tê-las produzido.”

Após 2002, o governo brasileiro distribuiu recursos (sob a forma de aumentos salariais muito acima da inflação, bolsas para ampliar a rede de proteção social, ampliação do crédito e construção de casas populares), sem tê-los criado ou, sequer, expropriado. Afinal, nem ocorreu aumento de produtividade (e consequente geração de riqueza), nem diminuíram (muito ao contrário) os lucros dos grandes empresários e banqueiros.

De onde, então, surgiu o dinheiro? O primeiro passo foi o de se ampliar os gastos públicos, injetando-se recursos na economia, em geral, e nas contas dos bolsistas, em particular. O BNDES elegeu algumas empresas “campeãs”, que receberam empréstimos com juros subsidiados (e sem necessidade de demonstrar que poderiam honrar a dívida contraída). E a CAIXA irrigou os programas de distribuição de donativos (donativos sim, pois não havia contrapartida dos “bolsistas”) e os programas habitacionais.

Como não houve planejamento nesses desembolsos, o retorno dos recursos sob a forma de crescimento sustentado da economia não ocorreu. Os empréstimos do BNDES transformaram-se em vergonhosos episódios de falências fraudulentas e o dinheiro entregue aos bolsistas acabou incentivando o consumo de produtos importados, uma vez que as empresas brasileiras (encalacradas com os impostos, a falta de infraestrutura e os custos da energia) não tinham condições de atender ao mercado.

Injetar dinheiro na economia, sem produzir riquezas, produz inflação. E o governo petista decidiu escondê-la: a cotação do dólar foi mantida artificialmente baixa (mantendo baixos os preços dos importados no mercado interno, o que destruiu de vez a competitividade do empresário nacional); alguns produtos manufaturados receberam isenções fiscais (aumentando o déficit público); o preço dos combustíveis e da energia elétrica foram represados.

Para evitar aumento nos preços dos combustíveis, a PETROBRAS foi assaltada pela militância partidária petista, asfixiando a empresa a partir dos cargos de diretoria e do conselho administrativo. Claro, aproveitaram-se da situação para fazer caixa para o partido, para a base aliada e também mandar uns trocados para contas bancárias no exterior...

As empresas de eletricidade foram descapitalizadas, por conta da redução das tarifas de consumo de energia, ficando sem condições de investir na manutenção de linhas e no aumento de produção. O resultado, desesperador, é a produção insuficiente que só não se transformou – ainda – em racionamento graças à produção termoelétrica que gera energia 300% mais cara.

Como sair dessa situação? A resposta é teoricamente fácil, mas sua implantação é impressionantemente difícil: o governo precisa arrecadar mais e gastar menos. Precisa cobrar mais impostos e parar de desperdiçar dinheiro. O problema é que (com as graves deficiências de infraestrutura) os pequenos e médios empresários não conseguiriam sobreviver ao aumento da carga tributária. E as classes médias, totalmente desassistidas pelo governo, não admitem mais impostos.

Do outro lado, o governo não sabe economizar e não pode abandonar os programas de proteção social (seja por motivos humanitários; seja por necessidade eleitoral).

Pois é, populismo tem custo! Quanto? As ruas dirão.

Ney Vilela
Coordenador Regional do Instituto Teotônio Vilela de Estudos Políticos
Membro da Academia Jahuense de Letras
Membro da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
Membro do Instituto Cultural de Artes Cênicas do Estado de São Paulo
Membro dos Estudos Pós-Graduados em História (Cultura e Representação) da PUC-SP
Professor de Teorias da Comunicação  e de História do Brasil Contemporâneo da Fundação Raul Bauab - Jahu

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