Rogério, Ney e Eduardo - Letras e Sons
"Ao final do show Letras
e Sons e as canções de protesto (apresentado no SESI-Jaú, no dia 10 de
julho), três senhores homenagearam os artistas entoando – com lágrimas nos
olhos – parte da música “Para não dizer que não falei das flores”, de Geraldo
Vandré. Nesse mesmo local e momento, uma jovem de vinte anos perguntou por que
as aulas de história não poderiam ser como o show que ela acabou de presenciar. Também no dia 10 de
julho, os jovens concertistas que participam do I Festival Internacional de
Música de São Carlos fizeram uma apresentação no Asilo Helena Dornfeld, em São
Carlos. Enquanto se apresentavam, um senhor (que veio visitar sua esposa,
residente no asilo) buscou um pente para arrumar os cabelos de sua amada. Disse
para ela: “Você merece ficar mais bonita, para escutar essa música!”. No dia 11 de julho,
os mesmos concertistas percorreram os corredores da Santa Casa de Misericórdia
de São Carlos, molhando de sons todas as dependências do hospital. Em um dos
quartos estava um menininho que, há muitos dias, não saia da cama. Para espanto
de sua mãe, decidiu acompanhar os músicos, por algumas dezenas de metros. Entre
lágrimas de felicidade, a mamãe seguiu o jovem, carregando a bolsa de soro de
seu filho... Ainda no dia 11 de julho,
os integrantes do Grupo Preto no Branco, nos camarins do Teatro Municipal Dr,
Alderico Perdigão, preparavam – cantando ao ritmo da música clássica que vinha
das coxias e do palco – seus elementos cenográficos para a apresentação que
representará São Carlos no Festival São-carlense de Teatro. O que esses fatos
indicam? Parece inequívoco: toda forma de arte é revolucionária. Isso se
observa claramente nas músicas com letras iracundas, do Geraldo Vandré. Mas a
música de concerto fez uma criança doente reencontrar a felicidade e uma jovem
mamãe mostrar – em seus olhos – que brilham, infatigáveis, os mil fogos da
esperança. E isso também é revolucionário. A arte dá dignidade e amor para a
velhice em um asilo. Em qualquer lugar, a arte engrandece todos: os músicos, os
atores, os ouvintes. O público numeroso,
que acompanhou o Primeiro Festival Internacional de Música de São Carlos,
mostrou-se diversificado: havia funcionários públicos, comerciários,
enfermeiras velhinhas, artesãos, professores, estudantes e casais de meia
idade. Eles escutavam a música como se estivessem rezando e saiam dos concertos
com a alma contente e o rosto sereno.
Acho que eles encontraram o significado supremo da arte e do viver. Assim, “arte
engajada” talvez seja um pleonasmo: toda forma de arte carrega consigo o
compromisso de dignificar quem a produz e quem a admira e a recebe. Todos os
homens e mulheres, toda a sociedade se fortalece sob a generosa proteção das
musas. Resta-nos agradecer
aos professores, alunos e concertistas que nos brindaram com o I FIMSC. Muito
obrigado por tudo o que nos ofereceram. Já estamos com saudades e aguardamos,
ansiosos, o Festival do ano que vem."
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