sexta-feira, 16 de setembro de 2016

DEGUSTAÇÃO LITERÁRIA: PÃO AMANHECIDO – UMA VIAGEM SEM PÉ NEM CABEÇA, NOVO LIVRO DE ROBERTO VILLANI.

“Havia uma poltrona para espera. Sentei-me e passei a observar todo o espaço, enquanto a máquina ronronava. Um painel, dissimulado, preso à parede ao lado de uma porta de cor rosa, chamou-me a atenção. Levantei-me e fui de encontro ao visto. Cinco botões lilás, enumerados, revelavam suas funções. O número um, AJUDA LATINA. O número dois, AJUDA AMERICANA. O número três, AJUDA EUROPEIA. O número quatro, AJUDA AFRICANO/ORIENTAL. O número cinco, AJUDA PORTENTOSA. Confesso que fiquei ali, matutando sobre aquele insólito painel. Que porra de ajudas seriam aquelas? Talvez para hóspedes que não soubessem lidar com as máquinas. Pensava que cada ajuda tinha linguagem própria, no intuito de facilitar o entendimento. Espanhol, português, inglês/francês/italiano/alemão... E africano? E oriental? Sei lá!  Mas a portentosa, como seria? Não perdi tempo, apertei o botão de número cinco. E pasmei. A porta rosa abriu-se e o deslumbramento tomou conta de mim. Arrepiei-me por inteiro. Cheguei a gelar, a princípio. Mas apressadamente meu corpo esquentou, reagiu convenientemente e transformou-se numa fogueira. Cinco mulheres, todas saídas das capas da Playboy, vestidas com roupão igual ao meu, aguardavam a minha entrada. Deusas do Olimpo, do Palácio celeste de Frigga, e mais. Uma morena, uma loira, uma ruiva, uma negra e uma oriental. Eu estava paralisado. Nem entrava, nem saia. Súbito, acho que para me encorajar, as cinco desataram o cinto do roupão e deixaram-no cair. Estavam seminuas, com generosa lingerie sobre o corpo. Engoli seco. Aquilo não podia ser verdade. Eu devia estar sob algum efeito de algum sonho. Belisquei-me; eu estava acordado.  Dei dois passos para frente e parei. Notei que a porta cor de rosa fechara-se às minhas costas.  Elas olhavam fixas para mim, com sorrisos sedutores. Imediato, elas me cercaram, desataram o laço do meu cinturão e derrubaram o meu roupão. Mãos maravilhosas, delicadas, passaram a percorrer o meu corpo. Carícias jamais imaginadas. Realmente, eu estava vivendo momentos encantados.
            Pensei que o primeiro estágio dessa erótica aventura seria o banho numa hidromassagem enorme, bem à minha frente.  Atirei-me naquela quase piscina de águas borbulhentas, afoito, na ansiedade de quem pensava saborear o mel da luxúria.  Enquanto uma me lavava os cabelos, o rosto, as orelhas, outra atirava sais perfumados na água da banheira. Uma terceira levava-me pés e pernas. A quarta, cuidava das mãos, braços e tronco. A quinta, ah a quinta!, não posso esquecer da ruivinha, cuidou das minhas intimidades. O que eu posso resumir daquele banho, fui simplesmente expurgado de qualquer impureza corpórea. Mas a mente...
            Ali não tinha ventinho quente e perfumado para enxugar o corpo. Eram toalhas mesmo. Deixei a banheira e pus-me de pé diante delas,  totalmente teso. As cinco apanharam toalhas e secaram-me desde os pés até a cabeça. Misericórdia, eu já não aguentava mais de tanta excitação. Não via a hora das deusas concluírem a tal ajuda.  A iluminação principal deu lugar a tênue luz sobre mim. Em seguida, uma por uma beijava-me com abraço lascivo e desaparecia nas sombras do ambiente. Desapontado, falei bem alto:
            - É só isso? Que porra de ajuda é essa?

            A porta cor de rosa abriu, a luz apagou e eu, indiretamente, fui convidado a sair e cuidar das minhas roupas, já lavadas, secas e passadas sobre a máquina de lavar.”


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