sábado, 17 de agosto de 2013

"SEM MITOS, O MUNDO FICA VAZIO", ARTIGO DE NEY VILELA.



Segundo a Escola de Frankfurt, os filósofos ilustrados queriam livrar o mundo do feitiço. Pretendiam erradicar os mitos e, por consequência, eliminariam a imaginação, substituindo-os pelo saber.
O casamento feliz entre o entendimento humano e a natureza das coisas, que Bacon tinha em vista, era patriarcal: o entendimento, que venceu a superstição, devia ter voz de comando sobre a natureza desenfeitiçada. A técnica é a essência desse saber.  O objetivo da técnica não é a busca de conceitos ou imagens nem a felicidade da contemplação, mas o uso do método, a exploração do trabalho dos outros e o acúmulo de capital. Segundo os iluministas, o que os homens querem aprender da natureza é como aplicá-la para dominar completamente os acontecimentos naturais e todos os outros homens. Fora disso, nada conta. Poder e conhecimento são sinônimos.

O desenfeitiçamento do mundo, promovido pelo Iluminismo, é a erradicação do animismo. Xenófanes zombava dos muitos deuses, por serem eles semelhantes aos homens, que os produziram, no que estes têm de acidental e de pior. (...) Para os iluministas, o animal totêmico, os sonhos de um visionário e a ideia absoluta, não possuem diferenças entre si. Mas, ao caminhar em busca da ciência moderna, os homens se despojam do sentido. Eles substituem o conceito pela fórmula, a causa pela regra e pela probabilidade. O que não se ajusta às regras do interesse calculista e da utilidade é suspeito para o Iluminismo. O Iluminismo é totalitário. (ADORNO e HORKHEIMER).

 Ou como diriam Adorno e Horkheimer, em Dialética do Iluminismo: “O racionalismo das luzes adota a mesma atitude com relação aos objetos que o ditador em relação aos homens. Conhece-os para melhor os dominar”.
Max Weber, em seus escritos, parece ir ao mesmo caminho de Adorno e Horkheimer, pois considera que à medida que o mundo é despojado de seus aspectos místicos, míticos, sagrados e proféticos, acaba se tornando mecânico, repetitivo, causal. O mundo assim desencantado deixa um imenso vazio na alma.
O sentimento de vazio, apontado por Weber, se aproxima dos escritos de românticos como Novalis e Hölderlin, que viviam a perda de valores tradicionais e o advento do mundo utilitário e do prestígio do dinheiro como alienação do homem no mundo; sentimento de que os homens são estranhos no mundo – um sentimento de exílio. Tanto para Weber quanto para os românticos, o fortalecimento do capitalismo e a universalização do valor de troca, do mercado, do dinheiro como fetiche são vividos como miséria.
Novalis e Hölderlin, os românticos em geral, Weber, Adorno e Horkheimer concordam em considerar que não são os homens ativos e conscientes que comandam o mundo das mercadorias, mas, ao contrário, são as mercadorias que determinam as relações entre os homens. O mercado mundial é a forma contemporânea de destino.

Ney Vilela


 

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