"É engraçado
como depositamos tanta confiança e tanto sentimento nas pessoas. Em pessoas que
achávamos conhecer, mas, que no fim, só mostraram ser iguais a todos. E por
esperar demais, sonhar demais, criar expectativas demais, sempre acabamos nos
decepcionando e nos machucando cada vez mais." - Dalai Lama.
2013,
haveria eleição extra para prefeito na cidade de Descalvado. Nosso grupo
político então decidiu apoiar a campanha de um candidato. E pôs-se à luta,
elaborando um programa de ações para a popularização do homem escolhido. Várias
reuniões foram realizadas na antecedência do pleito. Eu e minha família
entramos de corpo e alma nessa disputa política, inclusive com aplicação de
dinheiro. Como acordo com o candidato, se eleito, nosso grupo o auxiliaria na
condução do governo. E conquistamos a vitória.
10
de janeiro de 2014. Fui nomeado pelo então prefeito eleito para o cargo de
diretor da divisão de cultura. Retornei à cultura de Descalvado; de novembro de
2003 a maio de 2011, ocupei essa função com muito carinho. E agora, novamente
no posto, minha responsabilidade seria restaurar a cultura municipal, trazendo
novamente ao povo eventos culturais de qualidade. Essa responsabilidade foi-me
passada e apoiada pela secretaria de educação e cultura, na qual a divisão
municipal de cultura estava vinculada. Arregacei as mangas e coloquei-me ao
trabalho. Precisava encontrar um local para instalar a divisão de cultura;
outrora a mesma situava-se no lugar onde hoje se encontra o museu público
municipal. Então, decidi ocupar a antiga estação ferroviária, ex FEPASA.
A
estação e a praça na qual ela está considero-as das mais lindas da região.
Entretanto, abandonada por administrações anteriores, servia de depósito de
sucata, lixo, abrigo para desocupados, tráfico etc. Resolvi, então, livrá-la do
mal e a saneei das mazelas do abandono total. Na antiga sala das bagagens, onde
estabeleci o gabinete do diretor, havia tanta barafunda que mal se podia chegar
ao meio dela. Para se ter idéia, o chão estava coberto por óleo grosso,
daqueles que se usa em motores de ônibus. Comprei detergente especial e, com
ajuda de um funcionário, o óleo foi removido. Comprei cortinas, ajeitei móveis
de escritório e, enfim, aprontei o cômodo. Compras feitas com meu próprio
dinheiro.
Mas
muito ainda tinha de ser feito. Ajeitei a antiga sala de embarque como
escritório da divisão e a sala de telégrafos como ambiente para aulas. Nesse um
ano e meio, ali foram realizadas várias oficinas culturais como fotografia,
óleo sobre tela, bordado, "o homem quântico" etc. Ali também igreja
evangélica realizou aulas de evangelização para jovens. Na quase totalidade,
ações gratuitas oferecidas à população. Procurei arrumar os banheiros da
estação, antes em estado deplorável. Alguma coisa pode ser feita, outras, por
falta de dinheiro (?), a prefeitura
deixou de nos atender. Ajustei a iluminação externa, trocando lâmpadas
queimadas. O local tinha que estar bem arrumado, pois minha programação
determinava atrações públicas na praça, que se propunha a trazer à população para
o belíssimo ambiente.
"Letras
e Sons" - famoso grupo lítero-musical de São Carlos, "Shows
musicais", com artistas da região e de casa, atrações como festa junina,
semana do meio ambiente, circo para crianças etc. A plataforma de embarque da
estação transformou-se em palco, coisa que eu tanto sonhei, por várias vezes. E
assim, resgatei a importância cultural da antiga estação ferroviária de
Descalvado. E até escrevi um texto contando a história das estações ferroviárias
de Descalvado, folheto que era entregue gratuitamente para visitantes e alunos
de escolas locais.
Com
a divisão municipal de cultura devidamente instalada, procurei reunir a
biblioteca, escola de música e o museu público. Minha intenção era fazer um
trabalho integrado pois esses órgãos municipais estavam diretamente
subordinados à divisão de cultura. Confesso que alguma coisa consegui nesse
mister, agastando-me em momentos de desapegos, de indiferença à hierarquia, em alguma ações. Na verdade, tudo ia muito bem
até os últimos dias de junho, quando soube que meu nome constava numa lista de
funcionários que seriam dispensados por conta de economia na folha de
pagamento. Parte do nosso grupo político, o mesmo que ajudou essa pessoa chegar
à vitória, foi afastado da administração por motivos escusos. Então, fui exonerado
sem que o tal prefeito, sua esposa e seus assessores levassem em conta tudo o
que fizemos na campanha e no próprio trabalho. E, pasme amigo leitor,
transferiram os funcionários concursados do setor e desativaram a divisão de
cultura. Acabaram com a cultura municipal de Descalvado. Incompetência,
incultura, ignorância e indiferença à população da cidade, principalmente aos
eleitores que o elegeram. Traição de todos os envolvidos nesse bródio político.
Dos governantes e daqueles que queriam o meu cargo, que subestimaram a
recuperação da minha saúde no ano passado com vistas ocupar meu posto. Estou
decepcionado. Que Deus perdoe os incautos, pois deles é o reino da
infidelidade.
"Às vezes construímos sonhos em cima de
grandes pessoas... O tempo passa e descobrimos que grandes mesmo eram os sonhos
e as pessoas pequenas demais para torná-los reais!" - Bob Marley
Roberto Villani