Consistido
na expressão bíblica "Muitos serão chamados, poucos serão escolhidos"
(Mateus 22.14), atrevo-me à corruptela "Muitos selecionados, poucos
eleitos". Quero dizer, muitos amigos pela vida à fora... Considerar alguém
como amigo é fácil, até corriqueiro. Algumas ações solidárias, parceiras, já
pode qualificar uma pessoa como amiga. Mas essa qualificação não identifica a
amizade como autêntica. As tais chamadas almas irmãs. Selecionamos, então, como
amigos, aqueles que nos dão tapinhas nas costas, nos abraçam com frequência,
nos cumprimentam em efemérides especiais, mas... Contudo, elegemos os
empáticos, aqueles que visitam com frequência as nossas carências e abastanças,
parceiros das nossas vidas, almas irmãs que proclamam a amizade acima dos
interesses próprios. Que jamais, jamais, apontarão na nossa direção a inveja, o
egoísmo, a parcialidade como armas dissimuladas.
Roberto
Fernandes Peres, jornalista e diretor artístico, trabalhou no jornal santista
Cidade de Santos como Editor de Variedades. Comandava o setor de artes do
jornal, através do qual apoiava todo e qualquer artista, de qualquer
modalidade. Esteio incondicional à Cultura de Santos e da Região por muitos
anos, desde 1967. Foi jornalista colaborador do jornal Última Hora e crítico de
dança do jornal A Tribuna de Santos.
Em
agosto de 1970, fiz parte da Comissão Julgadora do VIII Festival
Estadual de Teatro Amador de São Paulo, realizado na cidade de Santos-SP.
Durante a festa de encerramento do festival, quando da entrega dos prêmios, no
dia 31, fiquei entusiasmado com a vibração do público na agitação das torcidas.
E esse entusiasmo determinou-me à realização de um festival de teatro mas
somente para crianças. Movido por toda uma carga de objetivos antigos em
relação ao teatro e a criança, eu queria ver toda aquela vibração numa plateia
exclusivamente infantil.
-
Eu vou organizar um festival de teatro só para crianças. - disse à moça que
estava sentada ao meu lado. Essa jovem era a querida Maria Alice, esposa do
Roberto Peres. Então, após o evento, na saída, nos conhecemos. Em janeiro do
ano seguinte, realizei o Primeiro Festival de Expansão do Teatro Infantil,
promoção pioneira. O jornal Cidade de Santos apoiou totalmente o evento sob o
comando do Roberto Peres. Foi o início de uma amizade empática, parcerias de
almas irmãs.
Roberto
Peres foi diretor do Corpo Estável de Dança da Secretaria da Cultura de Santos
de 1991 a 1996. Comandou a encenação da Fundação da Vila de São Vicente no ano
2000. Dirigiu de forma magistral em 2009 o espetáculo Kasato Maru em
comemoração aos cem anos da Imigração Japonesa no Brasil, no Teatro Coliseu em
Santos.
Desde
1966, eu mantinha um projeto de teatro denominado TERV Teatro Educativo de
Roberto Villani. Grupo amador, que atuava de forma variada e voluntária em toda a Baixada Santista e na região de São
Paulo. Os nossos atores apresentavam em escolas, clubes, entidades
assistenciais, teatros etc, peças teatrais, shows, canto coral e performances
diversas. Sempre, mas sempre mesmo, repórteres e fotógrafos do Cidade de Santos punham-se presentes, com matérias
importantíssimas à divulgação do nosso trabalho.
Em
1993 e 1995, Roberto Peres foi curador das Bienais de Artes Visuais de Santos.
Nessas ocasiões, recebeu prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte de
melhores mostras fora da Capital. Nessa mesma área artística, atuou como
coordenador cultural da Pinacoteca Benedicto Calixto de 1993 a 1995. Também foi
coordenador do Salão de Arte Jovem do Centro Cultural Brasil Estados Unidos, de
1998 a 2004.
A
partir de 1972, passei a escrever para a coluna Histórias do Tio Villani no
periódico Escolinha, editado pela empresa PRODESAN - Progresso e
Desenvolvimento de Santos sob a supervisão da Secretaria de Educação de Santos.
Esse jornalzinho era distribuído a todos os alunos das escolas municipais da
cidade. Quem me abriu as portas para esse trabalho foi Roberto Peres, que
exercia alguma função jornalística na PRODESAN.
Professor,
diretor, carnavalesco, e tantas outras atividades ligadas à arte, à cultura, a
grupos de teatro, fizeram de Roberto Peres personalidade marcante,
inconfundível, na Baixada Santista. Participamos
juntos em diversos eventos culturais,
inesquecíveis parcerias. Perdemos os contatos mais frequentes quando
mudei para Descalvado. Nosso último encontro ocorreu em julho de 2011, quando
ministrei curso de teatro para a educação pela Prefeitura de Santos. Roberto
Peres veio ao meu encontro no palco do Teatro Guarany para um abraço, o último.
Era diretor da Escola de Artes
Cênicas "Wilson Geraldo", da Secretaria de Cultura de Santos. Faleceu
no dia 3 de novembro, deixando a esposa Maria Alice, os filhos Lucas e Roberta
e a neta Rosa.
Nosso
eterno aplauso.
Roberto Villani